quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Maranhão 66

Maranhão e memória: como a experiência constitucional de um povo deve olhar para a história


Vale a pena lembramos deste documentário filmado por Glauber Rocha, na ocasião da posse de José Sarney no Maranhão em 1966. Interessante também que este documentário fora encomendado e produzido com um senso de comoção social, esperança e propostas de uma mudança política (sic!).
A pedido do então governador eleito e amigo José Sarney, Glauber Rocha produziu um documentário sobre a cerimônia da posse do político em ascensão da UDN em 1966, dois anos depois do golpe militar de 1964. A posse de Sarney, em 1966, marcava o início da domínio político de sua família no Maranhão, interrompido somente em 1º de janeiro de 2007, com a posse de Jackson Lago no Palácio dos Leões.
Ante o discurso de posse de Sarney e a celebração da multidão com o novo governo, o documentário expõe a miséria da população maranhense. Enquanto Sarney, em um exercício retórico, se comprometia solenemente a acabar com as mazelas do estado, o filme mostrava as mesmas: casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome ou da tuberculose.
O filme é uma encomenda de José Sarney, ex-presidente da República, que acabava de ser eleito governador do Estado do Maranhão, e desejava que seu amigo Glauber Rocha produzisse um documentário sobre a cerimônia de sua posse. Isso se dá dois anos depois da tomada de poder dos militares, a franqueza do filme é total e anuncia o tom de “Terra em Transe”. Não se encontra no curta-metragem o mínimo de complacência para com o político que encomendou a obra. Ao contrário, o filme é construído como um verdadeiro desafio às promessas eleitorais demagógicas: enquanto o político se compromete solenemente a acabar com as misérias da região, elas são simplesmente mostradas, com uma terrível crueza, em imagens documentais (casas miseráveis, hospitais infectos, vítimas da fome, tuberculose...).
Alternando-se com as imagens do discurso em terrível oposição entre a retórica e a realidade, mas igualmente apontando a necessidade urgente de transformar as palavras em ações para promover o progresso social.
Comentário de Glauber Rocha: "É uma reportagem sobre as eleições de um governador (José Sarney) no Maranhão; é muito importante para mim, porque o filmei com som direto e foi uma experiência muito útil para “Terra em Transe” porque participei das etapas de uma campanha eleitoral”. Glauber Rocha - “O Estado de Minas” – 13/05/1980.
Obs: Glauber retirou dois planos dos negativos de “Maranhão 66” para sobrepor a um comício de Vieira em “Terra em Transe”. Foi no set deste filme que, Eduardo Escorel, então Técnico de Som, leu pela primeira vez o roteiro de “Terra em Transe”, filme em que assinaria a Montagem.
Comentário de José Sarney:“Tomava eu posse no Governo do Maranhão e fiz uma ousadia que não deveria ter feito com um amigo da estatura de Glauber Rocha. Eu lhe pedira, que documentasse a minha posse. Glauber fez o documentário que foi passado numa sala de cinema de arte, há 15 anos. E quando o público viu que uma sessão de cinema de arte ia ser passado um documentário que podia ter o sentido de uma promoção publicitária, reagiu como tinha que reagir. Mas aí, o documentário começou a ser passado, e quando terminaram os 12 minutos o público levantou-se e aplaudiu de pé, não o tema do documentário mas a maneira pela qual um grande artista pôde transformar um simples documentário numa obra de arte: ele não filmou a minha posse, ele filmou a miséria do Maranhão, a pobreza, filmou as esperanças que nasciam do Maranhão, dos casebres, dos hospitais, dos tipos de ruas, e no meio de tudo aquilo ele colocou a minha voz, mas não a voz do governador. Ele modificou a ciclagem para que a minha voz parecesse, dentro daquele documentário, como se fosse a voz de um fantasma diante daquelas coisas quase irreais, que era a miséria do Estado”.
Senador José Sarney, no Jornal do Brasil, (Rio de Janeiro, 25 de Agosto de 1981).


Algumas palavras para refletirmos:
O que aprendemos, após estes anos de experiência constitucional? Como repensar as casas do Congresso Nacional, em especial o Senado Federal, enquanto representantivas do federalismo demócrático e cidadão de 1988?
Fica a pergunta, diante das perplexidades e atrocidades que temos presenciado no Legislativo.
Pior que, mesmo após tantos anos de história e dominação política, hoje o Senador José Sarney é eleito pelo Estado de Amapá, tendo sido eleito em 2007 com mandato até 2015!
Contudo, os problemas atuais do Legislativo brasileiro refletem as estruturas conjunturais da sociedade brasileira, a ausência de esclarecimento sobre a relevância e importância do voto e da cidadania. Precisamos repensar nosso exercício da cidadania e o projeto político de nação que temos desenvolvido.
Onde o ensino jurídico se insere nessa nova consciência sobre a cidadania e o voto?

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