segunda-feira, 20 de julho de 2009

A felicidade


Adorno e Horkheimer, analisando a viagem de Ulisses a Ítaca pensam a constituição do sujeito racional pela negação da natureza interior e exterior. A figura ao lado mostra Ulisses, amarrado ao mastro para não ceder ao canto das sereias:

"O astucioso sobrevive somente ao preço de seu próprio sonho, que paga desencantando-se a si mesmo e desencantando as potências externas. Ele não pode jamais ter tudo. Deve saber esperar, ser paciente, renunciar; não deve provar o lótus ou comer os bois do deus sagrado Hiperion e, navegando através do estreito, deve conta com a perda dos companheiros que Cila arranca da nave. Ele se esquiva e se desvia: a luta é sua sobrevivência. E toda a fama que ele outorga a si mesmo ou que os outros lhe outorgam só faz destacar que a dignidade do herói só se conquista mediante a humilhação do instinto contra uma completa, universal e indivisa felicidade". HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor. Dialéctica del iluminismo. Buenos Aires: Sur, 1970. p. 76.

A passagem acima me lembra a idéia de que talvez o mais expressivo som da felicidade seja o silêncio, o melhor agir o não fazer, mais ganhar quanto mais renuncia-se. Serve a nos lembrar que o conceito moderno de felicidade positiva, pelo agir, não respeita uma origem histórica do sentido da vida conectado com um destino e uma missão. O que é ser feliz? Fazer, conquistar, agir? Talvez não... Ser feliz é desencantar-se de si mesmo.

Boa semana a todos.
Rafael Basile

Um comentário:

  1. Passagem interessante...Me fez pensar em quantas vezes deixamos a verdadeira felicidade nos escapar por entre os dedos, simplesmente por passar tempo demais correndo atrás dela...

    ResponderExcluir